Para mim, que sempre fui dramática e com um baixo limiar de dor, nunca tinha pensado em parto normal. Por que sentir dor? A medicina se modernizou tanto! Pois uma amiga, que me apresentou outra amiga, recém parida, me falou sobre o Parto Humanizado. Conversamos bastante e saí de sua casa com a primeira tarefa: assistir o Renascimento do Parto! É um divisor de águas, não é? Quem não assistiu, pare AGORA e corre lá (NETFLIX). Obs: Nesta época havia acabado de me formar e conseguir o tão sonhado primeiro emprego, em uma empresa "sonho de consumo", em Araraquara.
Foi então que procurei minha doula amada, Marina Peronti, que junto com o Dr Rogério me prepararam para o parto normal.
Ao final de gestação, a ansiedade natural batendo à porta, Henrique já havia passado de sua DPP.
Dia 17/12, após uma roda de gestante no espaço Paineiras, senti as primeiras contrações, mas logo passaram. No dia 18, já acordei com algumas dores, ritmadas e suaves.
Como era tudo muito tranquilo, segui vida normal: fui para a piscina, fui passear e no meio da tarde começaram a intensificar. Quase não dormimos nesta noite, assim que amanheceu o dia, liguei para minha doula, que foi pra casa. Passamos o dia em casa, tranquilos, esperando que essas contrações se intensificassem e diminuíssem o intervalo entre elas.
Ao final do dia, Marina foi embora para nos deixar a sós e aguardar. Essa madrugada dançamos bastante. Mal raiou o dia e liguei: "- Marina do céu, não vou aguentar." Lembram que falei que sou dramática? "Já estou cansada". Ela então, retornou pra minha casa, percebeu que ainda era fase latente e que não adiantaria ir para o hospital.
Passamos o dia tentando engrenar. Rebozo, exercícios, óleos, lágrimas e suor. O dia foi caindo e fui ficando desesperada, com medo de passar mais uma noite em claro. Meu marido então, começou a fazer uma jantinha e o cheiro me enjoou e fui para o quarto, sozinha, com a bola que minha doula havia trazido. Durante as contrações, eu vocalizava estava entrando na partolândia. Eles, do lado de fora, cronometravam. Deve ter durado uma hora, e eu ouvi Marina dizer com aquela calma deliciosa: "Angelo, pode ir se arrumar para gente ir para o Hospital!" Me senti eufórica! Renovei!
Fomos então no carro da Marina e a viagem de Araraquara para São Carlos que é aprox 40km, durou 4000km. Chegamos e internamos com 6 de dilatação. Um único exame de toque foi feito aproximadamente às 22h. Usei chuveiro, bola, alaguei o banheiro e entrei na banheira, de onde não saí mais.
Em algum momento senti as dores diminuírem e meu corpo fazer força, uma força que ia aumentando. Eu tremia. E cadê médico? Lembro-me da enfermeira obstetra do hospital falar com toda calma: "O dr. vai esperar a cabecinha apontar para chegar". Henrique descia, descia e comecei a sentir o círculo de fogo. Minha doula orientou a não fazer força além daquela que meu próprio corpo já fazia, pois assim, a chance de laceração pela diminuição da velocidade da saída, diminuía. Eu olhava para as pessoas ao meu redor (marido, enfermeira e doula) e pedia: "- PUXA! PUXA!". O Dr Rogério entrou, com a cabecinha já com a metade para fora. Ele, então, calçou suas luvas, viu a temperatura da água (parâmetro que estava sendo monitorado constantemente pela minha doula - lembro dos dedinhos dela entrando na água delicadamente), olhou pra mim com um sorriso largo e eu falei: "- PUXA!".
Obviamente que meu pedido não foi atendido, graças a Deus. Henrique nasceu debaixo d´água com uma circular de cordão, pós data, trabalho de parto de 2 dias e com 4 Kg, às três da manhã do dia 21/12/2014! Não saiu do meu lado e está até hoje assim (rs).
Com esse breve relato, queria mostrar para vocês que:
Nós conseguimos parir, pois fomos feitas para isso!
Minha doula quase não tocou em mim, pois eu não queria. Era eu comigo mesma. Mas sem a presença dela, com certeza não teria conseguido! Sem sua calma sendo transmitida, seus conselhos e sua presença. Mesmo com um marido incrível, tranquilo e muito envolvido com o parto. E foi esse motivo que me ascendeu a vontade de doular: ser este olhar para a mulher que busca o conforto, que busca a calma no meio da tempestade, que busca um guia quando estão todos emocionalmente envolvidos.
Estava exercendo minha formação em engenharia, com Henrique crescendo com 2 aninhos e...atraso de menstruação! Bingo! Meu Deus! Outro bebê não planejado.
Nesta época já morava em Presidente Prudente e não tínhamos possibilidade alguma de um parto parecido com o do Henrique. Na cidade só havia uma doula e a Dra Marcela Mc Gowan estava iniciando seus atendimentos. Fiz o pré natal todo com ela e fui sincera: contei minha experiência e disse que em Londrina, a 180 km era uma opção pra mim por ter minha avó materna morando lá, o convênio cobria tudo também e ela me apoiou! Contratei de cara minha doula de lá, mesmo querendo muito que a minha primeira doula acompanhasse também. Meu primeiro obstetra, Dr. Rogério, já foi incrível; o segundo, Dr. Vinícius conseguiu superar qualquer expectativa que eu poderia ter em todos os aspectos. Fizemos o pré-natal lá e cá.
Fiquei alguns dias em pródomos e em uma sexta-feira, não estava me sentindo bem. Não era algo físico, era emocional! Pedi para meu marido ficar comigo e ele conseguiu uma folga. Ficamos aninhados em casa, eu, Henrique e meu marido.
No sábado acordei com os pródomos um pouco mais intensos e à tarde fui para o hospital ser avaliada, já que queria ir para Londrina bem no começo. Eram contrações muuuuuuito suaves e, como eu já sabia, poderiam durar dias. Resolvi ir pra casa, descansar e falar com as minhas doulas, que pediram para eu dormir. Levantei do sofá para obedecê-las e, tcharam! Aquela contração diferente! Dali 4 minutos, outra! Falei para o meu marido: "- Vamos pra Londrina!"
As coisas foram engrenando. Meu filho já iria dormir lá na minha mãe então, estava tudo muito certinho!
Cheguei em Londrina com dores intensas. A viagem ajudou a engrenar (rs) e fomos para o hospital avaliar. Quando recebi o primeiro toque fiquei muuuuuito animada! Seis de dilatação, aproximadamente 00:30h. Lembram o tempo que eu demorei no primeiro filho? Ótimo! Estava animada.
Então, já ficamos internados: eu, meu marido e doula. Caminhadas, agachamentos e....cansaço.
Às seis da manhã ele bateu. Desconcentrei e não consegui voltar para o foco após o toque de uma enfermeira que doeu muito. A partir dai, já não queria mais brincar! Aquele ultrassom que estimava 5kg do Otávio começou a me atormentar, mesmo meu médico me tranquilizando durante o pré natal. As contrações vinham e eu já fechava as pernas, dentro da banheira. Pedi para que chamassem meu médico (ele ainda não havia chegado, e tudo bem) para que ele solicitasse a analgesia! E eu não estava brincando! Comecei a negar o parto. A doula tentou, o marido tentou e nada me fez mudar de ideia.
Conforme eles combinaram, conseguiram três horas para me dar a analgesia, com as mais diversas desculpas: troca de plantão, anestesista ainda não chegou, etc. Dr. Vinícius chega, me olha na banheira e sorri com os olhos. Entra no banheiro e agacha sorrindo, me encorajando para o que estava prestes a acontecer! Fui firme com meu propósito de analgesia pois sabia que ali haviam excelentes médicos que conseguiriam solucionar essa questão, com o menor risco possível. Tentamos então a epidural, que não foi possível após três "furadas" pois eu sangrava muito. Então foi realizada uma raqui baixa e leve para que eu mantivesse os movimentos. E assim foi. E é assim que nos apaixonamos por bons profissionais.
O tempo foi passando e nada acontecia. Já era aproximadamente onze da manhã e as dores começaram a querer voltar - foi pouco tempo de trégua. E a única coisa que eu pensava era que meu filho tinha 5kg. Solicitei mais uma analgesia! Todos foram contra. Dr Vinícius ficou apreensivo e eu deixei todo mundo muito tenso. E assim foi feito, mais uma picadinha. A partir dai, como em um passe de mágica, eu relaxei e Otávio começou a descer. Sentei na cama, e com a ajuda da enfermeira obstetra do hospital, comecei a fazer força. Foram poucas. Dr Vinícios falou: PEGUE ELE. E assim foi feito. Otávio foi recebido pelas minhas mãos e trazido até meu colo, de onde também não saiu mais.
E todos querem saber: nasceu com 5 kg Isa? Não gente, ele nasceu com o peso igual ao meu primeiro filho: 4 kg!
Resumo da ópera: o parto acontece dentro da nossa mente. Se tem alguma coisa que a assusta, resolva isso antes do parto e tenha uma equipe que saiba dos seus medos, para que durante o parto possamos trabalhar e ajudá-la a deixar fluir.